Cadernos Manchados Pelo Tempo

A noite passada foi de insônia, o sono só chega na hora de trabalhar. O dia amanheceu frio e com uma garoa fina que congela a alma da humanidade. Se é que existe algum pingo de humanidade neles... Mesma mesmice de sempre: acordar, levantar, escovar os dentes, tomar banho e ir para o martírio. O sistema nos obriga a viver essa vida “certinha”, nos obriga trabalhar a morrer e nunca ter dinheiro para nada. Inclusive agora nem aposentadoria teremos. Um beijo para o Temer. Na noite passada fiquei com muita raiva das atitudes daquele machista escroto. Claro que isso não me surpreendeu, pois sempre soube o monstro que ele era. Atitudes como estas me causam asco e tristeza por perceber que muitas mulheres são vítimas do autoritarismo de imbecis como estes. Falamos tanto de feminismo e tentamos erradicar o machismo, mas a tarefa é árdua.  O machismo sempre esteve impregnado na sociedade... uma doença que toma conta das pessoas.  A luta pela liberdade continuará, se enganam...

A correria dos dias está me causando náuseas, comendo mal e dormindo por poucas horas. Aos poucos o cansaço vai tomando conta do meu ser. Troquei a imensidão dos prédios e o trânsito caótico por uma mesa e uma cadeira na repartição pública. As horas custam a passar, mas minha mente está ocupada demais para perceber o tic-tac do relógio. No meio do turno, uma xícara de café para dar um ânimo para as horas que faltam. Na noite de boêmios, os livros e cadernos são meus companheiros. Troquei a música pela voz dos professores e troquei a diversão pela frieza de uma sala de aula. A boêmia se foi e com ela todo o romantismo dos velhos tempos. A realidade massacra e os deveres nos chamam. Chegar em casa, vestir o pijama e aos poucos adormecer. Logo o relógio soará o horário do martírio. Porra, que alarme filha da p*** Definição de um dia qualquer... ​

Mudança de rotina sempre me deixaram nervosa...  Minha vida mudou radicalmente, sinto-me como saltando de um penhasco sem a certeza se o pára-quedas irá abrir. O desconhecido sempre me causou medo e confesso que muitas vezes curiosidade.   O que é a vida se não corrermos riscos? Essa nova fase se inicia e preciso estar confiante que as coisas irão dar certo. O país está desmoronando e os gritos dos oprimidos estão sendo abafados com violência e atrocidades das autoridades corruptas. Em meio a todo este caos, minha vida se estruturou e comecei uma nova jornada, onde eu quero ser alguém melhor e que um dia possa contribuir para essa nação.  Sangue novo, idéias novas e a vontade de lutar contra os ataques dos malandros de colarinho branco. As leis nunca me interessaram, mas confesso que é interessante entendê-las...assim podemos ter mais embasamento teórico para argumentar em favor das minorias que são destroçadas pelos ditos “cidadãos de bem”.  Meu trabal...

A população está cansada das atitudes esmagadoras deste governo golpista. O povo não pode pagar o preço pela irresponsabilidade de certos políticos que se acham “Deuses do Olimpo”. O povo perdeu a confiança em si mesmo. Não podemos ter um país melhor se a constituição foi rasgada e a carteira de trabalho jogada no lixo. Sem democracia não há confiança... Governo ilegítimo não tem lugar em nossa pátria, eles estão nos esmagando... os pobres perderam seus direitos essenciais de sobrevivência. Os ricos são valorizados e os pobres humilhados. Neste governo não há lugar para o estudante e tão pouco para o trabalhador. Somos vistos como o “câncer” da sociedade e que deve ser combatido. Somos combatidos com gritos, bombas, gás de pimenta e agressões que nos ferem, nos prendem e nos humilham. A paralisação do dia 28 foi um sucesso, 40 milhões de pessoas foram as ruas para mostrar a indignação perante este governo e suas reformas repugnantes. O grito de “fora temer” ecoou nos quatro cantos...

Os grandes escritores levam a fama e os ruins ficam com as migalhas. Eu que nem escritora sou, me resta os prejuízos do anonimato ou talvez seja benefícios? Não procuro reconhecimento, apenas busco uma forma de evasão plausível, onde não me leve a atitudes extremas. A arte liberta, a arte consola...ela purifica a alma... Minha alma está infectada pelo desprezo que sinto pela humanidade....

Quis teu abraço, quis teu afago, quis tua atenção. Deste-me teu olhar, mas não soubeste me amar....